Resposta ao Covid-19

Vivemos tempos que nos desafiam a novos comportamentos. Não só pelo fato de estarmos na Quaresma, mas por causa do coronavírus ou COVID 19. Pessoas e países que se pensavam inatingíveis se curvaram. Nosso querido planeta azul não será mais o mesmo, sobretudo, no que tange ao comportamento das pessoas, não só no âmbito moral, mas também de uma ecologia integral.


A Quaresma é um tempo de revisão de vida. Proponho um roteiro para uma autoavaliação que terá como referência a Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Francisco, “Querida Amazônia”.


Um aspecto importante a considerar é o sentimento que moverá este exame de consciência. Não deve ser um sentimento de medo, nem de mágoa, raiva, ódio, ressentimento ou vingança. Menos ainda de busca de culpados. Mas o sentimento de sincero desejo de ser melhor e contribuir para um mundo também melhor.


Na Exortação, o Papa apresenta quatro sonhos que tomamos como referência para uma autoanálise e exame de consciência nesta Quaresma: um sonho social, cultural, ecológico e eclesial.  


No aspecto social, Francisco sonha para a Amazônia o compromisso de todos na defesa dos direitos dos mais pobres, dos povos originários, dos que estão nas periferias geográficas, sociais e existenciais. A pergunta é: que modelo de sociedade trabalho na minha mente e nos meus argumentos? 


No aspecto cultural, o Papa sonha uma Amazônia que preserva a sua riqueza cultural, que implica em “não a colonizar culturalmente, mas (...) cultivar sem desenraizar, fazer crescer sem enfraquecer a identidade, promover sem invadir” (QA, n. 28). Como penso e me relaciono com a Amazônia e a cultura originária da nossa terra? Valorizo as particularidades ou me regozijo com a aculturação globalizada que se impõe como rolo compressor? A nossa cultura foi mudada, que análise faço? 


Seu sonho ecológico é de uma Amazônia que protege sua vida transbordante, nela existe uma relação tão estreita do ser humano com a natureza, onde a vida diária é sempre cósmica. É preciso “intervir no território de forma sustentável, preservando ao mesmo tempo o estilo de vida e os sistemas de valores dos habitantes” (QA, n. 51). Como me relaciono com o meio ambiente em que vivo? Tenho uma visão sustentável, penso nas gerações futuras?


Por fim, no sonho eclesial, o Papa sonha com comunidades cristãs que tenham uma espiritualidade encarnada, inculturada, misericordiosa; que saibam deixar-se enriquecer por outras espiritualidades e cosmovisões ancestrais, como são as dos povos indígenas da Amazônia. Que visão tenho da minha Igreja, de quem está dentro ou fora? Defendo ou critico?  Minha participação é vital ou sou indiferente e não faço diferença? 


Se os sonhos do Papa Francisco fossem realidade teríamos um mundo em conformidade com o projeto de Deus. A pandemia que atinge a humanidade nos cobra uma autêntica revisão de conceitos e de atitudes. 


Considerando cada um dos sonhos de Francisco, fica o questionamento: em que eu posso e devo mudar para que a “Amazônia” da minha existência tenha vida plena?


Dom José Mário S. Angonese

Bispo de Uruguaiana


 
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