As crianças estão vendo tudo

Exatamente há um ano, na Campanha da Fraternidade 2018, refletíamos sobre Fraternidade e a superação da violência. No último dia 13 nos deparamos com um trágico quadro de violência em uma escola de Suzano, São Paulo. Dois ex-alunos entraram na escola, mataram, feriram e se suicidaram.


Porque as pessoas se tornam violentas? De onde surge tanta violência? As pessoas aprendem a se relacionar nos locais onde vivem: nos lares, nas ruas, nos clubes, nos templos que frequentam e, também, nas escolas em que estudam. Não poderíamos deixar de falar que muitos programas televisivos, videogames, são verdadeiras escolas de violência. Existe um provérbio que afirma que a vida se constrói nas pequenas coisas. Os ódios que se materializam em violências não são algo que aparece, repentinamente, em nossos corações e mentes.


Vivemos em um ambiente de competição. São enormes as possibilidades de uma criança que cresce em um ambiente de violência, reproduzi-lo. Por outro lado, aquelas crianças que crescem no cuidado, na solidariedade e no amor, terão, com maior probabilidade, uma adolescência e uma vida adulta marcadas pela cooperação e por atitudes que encaminhem para um mundo de paz e menos violência. Irão amar mais e odiar menos.


A pessoa humana não nasce amando nem odiando ninguém. Aprendemos isso durante nossa vida. Afinal, quem de nós seria capaz de olhar para uma criança, recém-nascida, e dizer se ela seria um adulto cooperativo ou competitivo? Da mesma forma quem poderia dizer a uma criança recém-nascida: “me sinto odiado por você”? Ninguém. Nossas violências têm origens muito próximas. A violência que o pai ou a mãe cometem contra o filho é tão decisiva para a construção de um mundo mais tolerante quanto a violência de um Estado contra outro ou de um grupo de terroristas contra seus alvos. São formas diferentes de violência. Porém, ambientalmente ligadas.


Nossas escolas estão imersas em uma sociedade de pessoas violentas. Como não teríamos violência nas escolas? Encontramos pessoas que falam aos gritos e acham isso normal. Pessoas que se sentem o máximo em dizer “escreveu não leu o pau comeu”. Existem muitos entre nós que sentem prazer em mostrar que são fortes por meio da arrogância. As crianças, simplesmente vão copiando modelos.


Precisaríamos reeditar a Campanha da Fraternidade sobre a violência? Por certo que não. O tema da Campanha deste ano sobre “Fraternidade e Políticas Públicas” tem tudo a ver, pois propõe desenvolver políticas públicas, preferencialmente de estado e não apenas de governos, que trabalhem relações fraternas nas diversas esferas da convivência social: famílias, escolas, igrejas, clubes...


A verdade é que a violência nos tem preocupado cada vez mais e grita por ações de maior envergadura. Que este tempo da Quaresma nos motive a trabalhar para que a experiência de Suzano não se reproduza perto de nossa casa. Tenhamos consciência de que todo trabalho feito dá efeito, para a paz ou para a violência. Atenção!, nossas crianças estão vendo e ouvindo tudo isso.  


Dom José Mário S. Angonese

Bispo Diocesano


 
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