A Alegria da Ressurreição

O texto bíblico dos discípulos de Emaús, descrito em Lc 24, é um dos mais profundos testemunhos da Páscoa de Jesus que encontramos no Novo Testamento. Ele contempla as etapas do despertar, do crescimento e do amadurecimento da fé do discípulo missionário. 


Os discípulos estão caminhando e conversam sobre os fatos da vida. Acolhem outros caminheiros e dialogam com eles. Falam de suas verdades e ouvem a verdade dos outros. São solidários, acolhem e tem olhos abertos e, quando reconhecem a Jesus, mudam a direção do caminho.


O texto também nos traz as provas da Ressurreição de Jesus. Ele não é fantasma porque come e pode ser tocado, e a Ressurreição pode ser fundamentada na interpretação das Escrituras: Jesus explica as escrituras e afirma que o que aconteceu estava previsto.


Este itinerário dos discípulos de Emaús é como um ícone da celebração da Missa: há uma “liturgia da Palavra” e uma “liturgia Eucarística”. A liturgia da Palavra se dá no caminhar do Ressuscitado com os discípulos: eles estavam desanimados, frustrados, sem esperança, com a crucifixão e morte de Jesus (v. 20-21); tinham experimentado os fatos, mas era preciso que estes fossem iluminados e interpretados pela Palavra. Assim, o Ressuscitado “explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele” (v. 27). Esta grande homilia, na qual lhes explicava as Escrituras pelo caminho, fez com que os corações deles ardessem (v. 32).


A liturgia Eucarística se dá na casa, na intimidade daquela pequena comunidade, os dois com Jesus, no cair da tarde do mesmo dia da ressurreição: sentaram-se à mesa, Jesus “tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía” (v. 30 – notemos que os verbos são os da instituição da Eucaristia) e reconheceram Jesus “ao partir o pão” (v. 35).  

 

Nas atitudes dos discípulos de Emaús estão contemplados os quatro pilares do nosso Plano de Ação Evangelizadora: o Pilar da Palavra, o Pilar do Pão, Pilar da Caridade e Pilar da Missão. Além de nos mostrar Jesus como o verdadeiro missionário, que entra na caminhada das pessoas, caminha com elas. Durante a caminhada, faz seus corações arderem, porque desperta neles o amor, permanece com eles, formando uma nova comunidade, e se dá verdadeiramente a conhecer quando as pessoas dão respostas concretas aos apelos do seu amor, fazendo com que elas sejam novas testemunhas da Ressurreição.

 

E, finalmente, quando a comunidade está reunida, realiza-se a experiência pascal, a experiência da presença do Ressuscitado. Esta experiência comunitária da presença do Ressuscitado faz com que a comunidade se torne missionária, testemunha de todos os valores pelos quais Jesus morreu e ressuscitou. O discípulo que se tornou missionário, com alegria, testemunha sua experiência do encontro com Jesus e anuncie o que viu, ouviu e experimentou. Neste ponto acontece a explosão da ressurreição. É como que o gol que determina a vitória no jogo de futebol. Oxalá, todas as nossas comunidades atinjam esta desafiadora meta.


Dom José Mário Angonese

Bispo de Uruguaiana


 
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